"Cancionera, canta siempre tu verdad"
#19 | Natalia Lafourcade puxa a playlist de abril com um álbum cinematográfico
Buenas! O foco do mês é uma certa cancionera que tá de álbum novo. Pero, permitam empezar falando sobre o grande Silvio Rodríguez. Afinal, o lendário cantautor cubano anunciou turnê pela América do Sul, após um hiato de 7 anos. Pena que não vem ao Brasil, mas só a repercussão que vem causando já dá gosto de ver.
Então vamos combinar o seguinte:
Primeiro convido vocês a lembrar a resenha do disco mais recente dele, Quería saber, publicada aqui na edição #9 e que entrou no top 10 dos melhores de 2024.
Segundo, vamos ler juntos uma resposta do cubano ao jornalista Claudio Vergara, do jornal La Tercera. Na expectativa de seu retorno ao Chile, Silvio Rodríguez respondeu sobre o que acha que escreverão sobre ele no futuro:
"No me preocupa lo que se escriba de mí en el futuro –ni siquiera en el presente–. No me hago ilusiones al respecto. Soy consciente de que no soy anglosajón –la cultura más difundida en los medios del mundo, por su poderío económico–. No le debo nada a las transnacionales ni a las disqueras poderosas. Para colmo soy de un país marginado y perseguido por rebelde y contestón. Sencillamente he hecho lo que he podido dentro de los maravillosos mundos de la música y la palabra, y lo he disfrutado. En Cuba se suele decir: 'A mí, que me quiten lo bailao'."
Agora sim, nosso assunto são as cancionistas que marcaram fundo o mês de abril, como a mexicana Natalia Lafourcade, que mereceu resenha extensa de seu aprimorado novo álbum. Outras como a colombiana Briela Ojeda, a argentina Nadia Larcher e a equatoriana Grecia Albán figuram em nossa playlist, em recomendações de vídeos, discos e singles.
Não deixe de rolar até o fim, para conferir links de jornalismo musical, com entrevistas e críticas imperdíveis. Ah, e na agenda de shows, repare que o argentino Kevin Johansen está de gira pelo Brasil. Vai tocar na sua cidade?
¡Arriba!
Não escute o álbum Cancionera, em nenhum streaming nem no vinil. Mas assista! Seja no Spotify ou no YouTube, verá um filme nostálgico do que não aconteceu. Uma película que recria o passado, com jogo de sombras, mimeses e tintas, maquiagens e máscaras grotescas, gestos caricatos. A produção audiovisual que acompanha as faixas te levará a adentrar em um mundo fantástico, impossível de ser acessado apenas pelas canções.
Inicia com uma trilha instrumental que nos coloca dentro de um universo onírico, baixando nossa guarda do dia a dia de cliques frenéticos.
"Para brillar como el sol en la playa/ Necesito un poquito de calma/ Y andar ligera sobre la arena/ Sin maquillaje y sin equipaje/ Dejar a un lado los calendarios/ Las aerolíneas, redes sociales” (Cocos en la playa, Natalia Lafourcade).
Produzido por Adán Jodorowsky, o mesmo do premiado De todas las flores (2022), e gravado em mídia analógica, o álbum contém participações de convidados como El David Aguilar, que assina a parceria em algumas composições. Assim, passeia entre inéditas e releituras de clássicos mexicanos, alternando ritmos como bolero, ranchera e son jarocho.
Cancionera apresenta canções de motivos folclóricos e também de corações partidos, imersas em uma imagética original. Nenhuma novidade, tendo em vista seus premiados álbuns anteriores. Afinal, Natalia Lafourcade é mestra na correlação entre raízes culturais e linguagem contemporânea.
Mas desta vez, a compositora veste uma personagem. Um eu lírico que parece descolar sua autoria das canções na performance, o que contraria toda uma tradição cancionista na América Latina. Mas esse efeito não se concretiza totalmente. Pois a voz desse pretenso alter ego é a mesma que conhecemos e que já nos confessou coisas bem pessoais em outros discos.
Sabemos que Natalia está ali diante das câmeras, numa dança de se esconder e se experimentar bêbada, dramática ou cruel demais para ser si mesma. Um jogo hiperbólico, que sustenta o argumento, o roteiro e as cenas mais encantadoras dessa obra.
Seria redundante dizer que é uma obra artística? Talvez não, se o adjetivo derivado de arte carregar aquilo de mais consagrado tem o termo. Incluindo aí a inspiração, a aura e a fruição profunda. Como às vezes ocorre no cinema. Portanto, melhor dizer: um álbum cinematográfico.
A colombiana Briela Ojeda chega rasgando em seu segundo álbum. Em Andariega revela-se em processo, em busca criativa. Soa crua, calcada na percussão e na sua voz projetada com punch. Às vezes, tribal, com coros e tambores. Noutras, vocalizando muito a vogal "A", como quem insiste numa tecla só, quase a ponto de se soltar e se consolidar em algo autêntico.
Nascida em Londres, de família nariñense, começou a carreira musical oficialmente após um mochilão pela América do Sul. A partir de então, diversas culturas musicais do continente permeiam suas canções. A faixa Andina, com suas flautas e pegada punk, está no ápice do álbum novo, ao lado da roqueira Abrakadabra.
Disco daqueles pra ouvir e reacender o desejo de se movimentar adelante.
▶️ adelantos y canciones singulares
A argentina Nadia Larcher dedica esta canção, que abre e intitula seu novo álbum, a sua avó. Há uma bela descrição em seu Instagram, do sentido do verbo que tematiza a letra. Por isso, reproduzo-o abaixo e nada mais.
"Trinar. Aceptar nuestra naturaleza de pájaras y cantarle al amanecer, al sol después de la lluvia, a la noche cuando se apaga, a la magia de la luz. Eso que saben hacer solo pájaros y humanos: cantar en los ríos mansos de las corrientes de este océano de aire en el que vivimos.”
Esse disco do Gepe já marcou presença por aqui em novembro de 2024. Agora reaparece nesta edição deluxe recém lançada, com faixas extras e que, voltando a circular no streaming, funciona como um lembrete de sua contundência. A canção araña pollito abre Undesastre dando uma mostra de sua estética híbrida folk-pop e das temáticas arraigadas. A letra versa sobre terremotos nos Andes, enquanto reflete sobre ser latino-americano.
O cantautor argentino Raly Barrionuevo convidou 19 mulheres, entre cantoras e instrumentistas, conterrâneas ou vizinhas, para parejas em cada uma das faixas do seu novo disco. Nesta zamba destacada aqui, Cenizas de tu amor, Guadalupe Toledo interpreta como quem canta a canção há muito tempo e conhece os meandros de sua melodia e incorpora a mensagem de sua letra. Tem ainda a brasileira Thamires Tannous, a uruguaia Florencia Núñez, a espanhola Amparo Sánchez, entre outras.
▶️ videos y sesiones
Grecia Albán já imprimiu seu nome na canção equatoriana contemporânea. Passados 7 anos do lançamento de seu excelente álbum de estreia, Mamahuaco, prepara agora o segundo para junho, cercado de muita expectativa. Sua sonoridade andina se expressa com rica instrumentação, a exemplo deste huayno Virgen y volcán, single do álbum Nubes Selva, que ganhou também este videoclipe. Uma incursão em sua terra natal Latacunga, por entre vulcões e sincretismos religiosos.
Também do Equador, o multi-instrumentista Curi Cachimuel mostra em vídeo canções arranjadas como peças de um concerto. Vale conferir o repertório do disco Llaktpura nesta performance para as sessões do estúdio Surku Sound, de Quito.
Ezequiel Borra é bárbaro. Esse adjetivo, surrupiado da história, costuma ser acionado na língua portuguesa com carinho, imprimindo um sentido estritamente superlativo e positivo. Não encontro outro que se encaixe melhor para apresentar este cancionista argentino. Como os doces bárbaros da MPB, invade o ar das cidades e dos campos com sua performance provocativa.
🎧 playlist do mês
Despacito, começamos a playlist de abril com diversos colores argentinos 🇦🇷, de álbuns recém lançados. Começando com a suavidade cortante de Nadia Larcher, da província de Catamarca. Depois a portenha Juana Aguirre, num disco de sonoridade indie, melancólico e original, e o santiageño Raly Barrionuevo. Por fim, a chamamecera Patricia Gómez, de Santa Fé, indicada pelo chamigo Mango Vargas (dale, gracias, che!).
A seguir, canções já citadas e comentadas acima nesta edição e outras, como Para regresar, uma mostra do novo disco de canções e poemas, de Diego Kuropa e Fabián Severo 🇺🇾, e singles do bogotano Masilva 🇨🇴 e da barranquillense radicada no Canadá, Lido Pimienta 🇨🇴.
Falando em encontros, a gauchada se reuniu na milonga con aires de samba, Tal e qual, obra de Juliano Guerra em dueto com Catto e produção de Vitor Ramil 🇧🇷. Também do sul, Vinicius Brum 🇧🇷, tarimbado cancionista nativista lançou o álbum Milongrafia.
A playlist contém ainda sonidos tropicais, de Max Tupper junto a Vicente Cifuentes 🇨🇱, Sara Aldana feat. Marta Gómez 🇨🇴, El Otro Polo 🇻🇪, Nidia Gongora 🇨🇴 e El Riqué 🇲🇽.
Na finaleira, a performance ao vivo do trio de bambas formado por Ana Prada, Samantha Navarro e Dulce 🇺🇾. E por último, uma daquelas canções pra cantar quase gritando, abraçado aos amigos, em meio a um show catártico. Mambeando, com Onda Vaga 🇦🇷. Quem nunca?
Descubre lo que importa:
[La Rata] Descubren registros inéditos de Violeta Parra en Suiza
[Radiónica] 3 artistas representantes del indie cantautoral caleño
[Rolling Stone] Briela Ojeda documenta su propio viaje en Andariega
[La Canción del País] Gourmet Musical: ese fascinante caleidoscopio de música y palabras
[Billboard] Silvio Rodríguez announces 2025 Tour of Chile, Argentina, Uruguay, Peru & Colombia
Prográmate
Brasil | maio | Kevin Johansen & Liniers | +info
Buenos Aires | 7 de maio | Sofía Alvez | +info
Lima | 7 a 24 de maio | Susana Baca | +info
Buenos Aires | 8 de maio | Ana Prada | +info
Resistência | 17 de maio | Festival Esto También Está Sonando | +info
La Paz | 22 de maio | Manuel García | +info
Montevidéu | 25 de maio | Sofía Viola | +info
★ Que se vengan las canciones
No início de maio, a equatoriana Luz Pinos chega com novo single. E no dia 16, a colombiana radicada no Canadá, Lido Pimienta, apresenta seu novo álbum, sucessor do premiadíssimo Miss Colombia.
Para junho, o também colombiano Adrian Quesada prepara o volume 2 de seus Boleros Psicodélicos, após o sucesso do excelente volume 1, em que versiona clássicos das décadas de 1960 e 1970.
Já o álbum da equatoriana Grecia Albán chega no dia 13. Expectativa alta!
Gracias pela leitura! Saiba que nosso número de assinantes cresce paulatinamente e de forma orgânica. Se você gosta e acredita no jornalismo musical, recomende para os amigos. Hasta!