#20 | feats. hermanos
Folkpirana, Flor de Lava, Pulso, discos e singles com participações alheias
Buenas! Entre as novidades do mês está a estreia da cinebiografia de um dos expoentes da Nueva Trova Cubana. O filme Para vivir: El implacable tiempo de Pablo Milanés terá sessão no festival Cine Sheffield DocFest, do Reino Unido.
Neste início de junho também estreia outro documentário, e desta vez sobre um cancionista promissor. O média-metragem, intitulado Boleros actuales sobre la fantasía de un migrante, vai mostrar no Festival de Cine Venezolano 2025 a produção do álbum Música moderna (2022), de Augusto Bracho.
Entre os nomes que mais promoveram a integração latino-americana até hoje, Pablo Milanés teve canções suas gravadas por brasileiros como Milton Nascimento e Chico Buarque. Já o venezuelano Augusto Bracho está entre os nomes proeminentes da nova geração, atuando como cantautor e como produtor. No currículo, discos premiados de Natalia Lafourcade e Laura Itandehui.
Passada a "sessão de trailers", vale lembrar que, ao seguir com a leitura desta 20ª edição da newsletter, você vai conferir recomendações do que de mais interessante se lançou no mês que passou na canção latino-americana. Entre álbuns resenhados, da mexicana estreante Damaris Bojor, do coletivo colombiano Flor de Lava e do feat. do argentino Juan Quintero com o chileno Julian Herreros Rivera, o surpreendente single da uruguaia Guadalupe Calzada e as performances audiovisuais imperdíveis, como a da cubana Daymé Arocena.
A curadoria mensal inclui ainda agenda de shows continente afora, links para reportagens em veículos especializados e a nossa especialíssima playlist do mês (cheia de feats. 😉).
¡Vamo!
Audaciosa como uma artista visual (que também é), a cancionista mexicana Damaris Bojor lança o álbum de estreia propondo um novo gênero musical. Folkpirana segue uma tradição moderna da música popular latino-americana, a de hibridizar referências terrunhas com nuevos aires de allá. Mas seu ineditismo reside numa mescla muito pessoal de folk estadunidense com a cultura sonorense, da região norte do México.
Sua contundência não emerge apenas do apurado senso estético, da pintura original para a capa do disco ou dos ótimos visualizers do Spotify, mas de suas letras. Versam sobre imigração e desilusões de forma simples e astuta. Podem anotar aí como uma das grandes revelações de 2025.
"Traté de refugiarme en un vicio o dos/ Pero eso no es la cura para el corazón/ Y para ya no causarles más complicaciones/ Mi remedio fue irme al bosque a escribir canciones"
(Yécora, Damaris Bojor).
O coletivo Flor de Lava debuta com um disco rebelde nas letras e pop na sonoridade. Formado pelas cantautoras colombianas Brina Quoya, Maria McCausland, Natalia Medina, Paula van Hissenhoven, Pilar Cabrera y Sabi Satizábal, o super grupo reúne canções que empolgam e despertam a faísca.
Já vínhamos conhecendo o repertório do disco em singles lançados desde o ano passado, como De la tierra broto, um dos pontos altos do álbum, numa das canções mais marcadamente de protesto. Tanto que ganhou um clipe gravado em meio a uma manifestação feminista.
Tú te inventaste de mi lo que yo no era/ pensaste que amarte es que te sirviera/ me botaste al barro y ahora aquí estoy/ Ay! De la tierra broto yo
De la tierra broto, Flor de Lava.
O disco começa com levadas que lembram a atmosfera das sessões acústicas que deram origem ao grupo, como a de El velo se cayó. A seguir, faixas mais pop e letras de sororidade, como a excelente Amiga date cuenta. Um álbum de espírito coletivo, que reúne o talento de seis cantoras-compositoras, só podia dar certo.
O argentino Juan Quintero vem lançando discos ótimos, sempre em parceria (ou feat., pra usar a expressão popularizada nas plataformas de streaming). Já gravou ao lado de Luis Pescetti e de Carlos Aguirre. Desta vez, convidou o chileno Julian Herreros Rivera. E o resultado superou os anteriores!
Pulso é composto de canções de inspiração folclórica, cantadas em duo, às vezes acompanhadas de violões, às vezes à capela. Demonstram uma afinidade, uma sintonia sem igual. Parecem gêmeos.
Destaque para Que nos vaya bien, de Julian, canção típica de autor, com introdução dedilhada marcante. Os violões são uma atração à parte, pela sutileza e originalidade, ecoando vals peruano, flamenco e erudito.
Que belo feat! 😉
▶️ adelantos y canciones singulares
Uau! A uruguaia Guadalupe Calzada é a grande surpresa do mês. Ainda sem lançar o primeiro disco, emplacou dois singles e a abertura do show da peruana Susana Baca em Montevidéu. Mas o debut fonográfico está encomendado, pois venceu o concurso de cantautores Canciones de Otoño. Logo ouviremos outras canções como essa Tregua, de levada jazz e timbre suave. Que venham logo!
Silvana Estrada ultrapassou o status de revelação da música mexicana e chegou ao patamar dos nomes definitivos e mais influentes na canção latino-americana. Tudo em um par de anos. Neste single, uma nova amostra de sua excelência em composição e interpretação. Canta como quem encanta o ouvinte, mas sem deixá-lo fugir para uma esfera etérea, pois sempre puxa com sua dicção límpida a atenção para os versos que escreveu e que diz ao pé do ouvido.
Premiado cantautor dominicano, Vicente Garcia tem por característica os ritmos tropicais, como o merengue, e a pegada pop/romântica. Em seu novo álbum, além disso, faz um tributo às culturas pré-colombianas e caribenhas. E na genuína primeira faixa, em tom de blues, eleva a ótima letra de Puñito de Yocahú, recontando um dos mitos da região.
Sara Aldana vem conquistando a crítica musical com sua música afro colombiana. Situada em Barcelona, lançou o primeiro álbum agora em maio, mostrando um colorido de canções, com arranjos tropicais, que incluem coros, percussões e sopros. Nesta faixa, Sancocho, já lançada previamente como single, divide a interpretação com a conterrânea Marta Gómez. Uma linda combinação de cultura andina e caribenha, em compasso 6/8 e arranjo de marimba.
▶️ videos y sesiones
A cubana Daymé Arocena lançou em maio um EP gravado ao vivo em estúdio, com versões mais intimistas para suas canções. Seu repertório, matizado pelo jazz e pelo pop nos discos e shows, teve as letras valorizadas com a entoação medida de sua autora, em performances descontraídas, tocando um piano cool. Nesta canção, El ruso, mostra um senso de humor afiado, enquanto critica aspectos político-sociais de seu país.
"Fúria doce" - tal expressão consta na descrição desta Sesiones Monarca, no YouTube, para apresentar Isabel. Não poderia haver definição melhor. A cancionista colombiana, de nome artístico La Muchacha, ecoa sua voz pelo povoado interiorano de Honda, no departamento de Tolima, convocando bichos, niños, viejos y pueblos ancestrales. De arrepiar!
Neste Sesiones De La Cuadra, o argentino Lucio Mantel tira as camadas instrumentais que costumam conferir uma sonoridade mais soturna e melancólica a suas canções. Busca o que há de solar em sua musicalidade portenha e nos oferece uma vívida amostra da riqueza de sua criação autoral.
Aqui um parêntese no gênero sessões musicais audiovisuais, para indicar e comentar um videoclipe, mas que não é puro na linguagem, pois se mescla com um curta-metragem. A guatemalteca Gaby Moreno contou com uma super-produção para contar em forma de ficção científica a história real de um resort em ruínas. A canção fica até em segundo plano, ajudando a narrar um caso impressionante de mudança climática no coração do Caribe.
🎧 playlist do mês
😉 Feats de gaúchos e argentinos dominam o início da playlist de maio. Começamos com a milonga do pelotense Mateus Porto 🇧🇷, que recebe Nadia Larcher 🇦🇷, evocando sua ancestralidade indígena na interpretação. Já Mario Falcão 🇧🇷 convidou a trovadora Sol Donati 🇦🇷 para cantar uma das canções de seu novo disco, Bordejo. E no dueto bilíngue de Nina Nicolaiewsky 🇧🇷 com Nacho Rodriguez 🇦🇷, do grupo Onda Vaga, sotaques trocados numa levada romântica.
Na sequência, canções já citadas e comentadas acima nesta edição e outras como Madre, de Alejandra Paniagua 🇲🇽, A unos ojos, de Katie James 🇨🇴 e Un bordado, de Ceshia Ubau 🇳🇮.
Há uma lista dentro da lista de maio, composta por canções de R&B e blues jazz. Nesta pegada, Saphie Wells 🇵🇪 feat. Carlos Cruzalegui 🇵🇪, Ricardo Pita 🇪🇨, Daymé Arocena 🇨🇺, Diego Lorenzini 🇨🇱 feat. Simón Campusano 🇨🇱, entre outros.
E pra terminar em alta rotação, dois feats. pulsantes. Jorge Drexler 🇺🇾 participa da canção da banda Conociendo Rusia 🇦🇷, enquanto Alex Cuba 🇨🇺 chama pra cantar a banda Bacilos 🇨🇴🇧🇷.
Descubre lo que importa:
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Prográmate
Bogotá | 8 de junho | Concierto de la Esperanza | +info
Porto Alegre | 15 de junho | Mariana Baraj | +info
Rosário | 17 de junho | Jorge Fandermole & Juan Quintero +info
Montreux | 15 de julho | Natalia Lafourcade | +info
Brasília | 23 a 31 de julho | Festival Latinidades | +info
★ Que se vengan las canciones
Em junho, teremos dois álbuns de grandes cancionistas equatorianos. Grecia Albán lança Nubes Selva e Ricardo Pita, Tu eres Latinoamérica!
Neste mês também estreia a nova temporada do podcast El Sonido: Cancioneros, produzido pela rádio pública KEXP (apesar das ameaças do governo extremista dos EUA). Serão episódios semanais, com artistas latino-americanos de distintos rincões, que compartilham e comentam as canções que os definem. Ouça a primeira temporada, com ótimos episódios, a exemplo daquele com Silvana Estrada aqui no link.
Obrigado pela leitura deste portunhol até o final! Gostaria de compartilhar contigo que já somos mais de 500 assinantes nesta newsletter. Trabalho orgânico que compensa. Muchas gracias!
😉 Não podemos encerrar a charla de hoje sem anotar aqui o que é um feat:
O feat, abreviação de featuring, é um mecanismo de indexação utilizado pelas plataformas de streaming para indicar participações de outros músicos em faixas de álbuns e singles.
A definição acima não foi gerada por IA. É um trecho de uma notícia publicada no site da Rádio UPF, nos primórdios deste projeto, quando produzíamos um programa semanal na emissora.
Agora sim, hasta luego!