#8 | Las más fuertes, Nenette, Compañera Presidenta
Pra quem tem ganas de escutar os lançamentos da canção latino-americana
Buenas, o México será governado pela primeira vez por uma presidenta. A notícia se concretizou no último dia 2 de junho. Vocês já sabiam, né? O incrível é que esse feito já era mote de uma canção da compositora Vivir Quintana. Uma bela evidência do poder cronista que esse formato musical alcança.
Tivessem perdido a eleição mexicana, as duas concorrentes mulheres, a canção teria servido apenas à mobilização dos corações de então. Agora, acertando na previsão, acabou se consolidando precocemente na história, como canal que deu vazão às aspirações políticas de uma época. E vai além, como uma petição empática:
No te olvides de tus ojos de mujer / no te olvides de tu boca de mujer / no te olvides de tu lucha de mujer / no te canses de ser grande y ser mujer (Compañera presidenta, Vivir Quintana)
Vivir Quintana já tinha consagrado seu nome com o hino feminista Canción Sin Miedo. Sua nova composição reforça a conexão com as aspirações mexicanas no tempo em que vivemos.
Embrenhados dessa inspiração política, vamos aos lançamentos do mês.
Nesta edição, vamos saudar o nascimento de mais um álbum rico no Caribe, o novo de Debi Nova. Adentraremos o universo de Nenette, compositora que foi companheira do ícone Atahualpa Yupanqui, pela mão e pela voz da uruguaia Melaní Luraschi, que pesquisou sua obra e lançou um disco original.
Ademais, aproveitem as recomendações de clipes, agenda, links e duas playlists. Sim, para esta edição preparei DUAS. Assim pude manter o perfil de valorizar os cancionistas mais apegados à matriz entoativa, na nossa tradicional lista mensal 1️⃣ , e, ao mesmo tempo, reunir uma série de flertes da canção com pop, rock e lounge, numa segunda lista mais acelerada e experimental 2️⃣.
Vamo arriba!
Uruguaia de Maldonado, radicada em Paris, Melaní Luraschi acaba de lançar um disco especial, resultado de sua pesquisa em Cerro Colorado, na antiga residência do argentino Atahualpa Yupanqui, que hoje é um museu. No entanto, seu interesse principal recaiu sobre a esposa do ícone latino-americano, a pianista e compositora Antonietta Paule Pepin Fitzpatrick, conhecida como Nenette.
Cantado em espanhol e francês, Je suis Nenette revela um processo criativo de oito dias, inspirado no ambiente histórico e íntimo do casal, que resultou em oito canções compostas, gravadas e produzidas pela própria Melaní Luraschi. Bebeu direto na fonte dos estudos folclóricos de Nenette, focados em ritmos argentinos.
Começa com a faixa título, introduzindo a inspiração na musicista, entoando com a marcação do bombo leguero. A seguir, Milonga del poeta viviente aproxima-se do estilo típico de Yupanqui, ao violão.
Confessión del cerro traz uma melodia afiada, num canto preciso, que nos leva a transcender. A seguir, sonoridades mais experimentais, até o encerramento do disco num tango contundente, que aproxima o cerro e o mar, a América e a Europa.
Nesta edição da newsletter comentarei também algumas canções avulsas. A primeira é uma metacanção, do uruguaio Diego González, La canción pide, la canción tiene. Dentro de uma sonoridade pop rock latina, ritmada e harmonizada com sopros, fazendo alusão ao tango, fala da ontologia desse formato básico.
Dá título ao álbum recém lançado pelo cantautor, cheio de melodias e batidas francamente pops. A faixa em destaque possui sacada e resolução exemplares da canção latino-americana contemporânea.
A outra que gostaria de comentar aqui é Mundos parecidos, de Alex Cuba, uma pérola dentro de um álbum antológico. O cubano registrou ao lado de sua família uma série de momentos únicos, que ficarão pra posteridade, valorizando as tradições musicais de sua terra natal.
No meio, essa faixa em específico mostra as virtudes de Alex Cuba, na composição, no arranjo, na execução instrumental, no cantar e na produção. O ponto alto do disco, que não desmerece o conjunto, mas demonstra seu inigualável poder de síntese na matriz da canção e sua performance impecável, com a multiplicação de sua própria voz.
No espectro da canção latino-americana, há expressões mais solares, menos introspectivas, mas não menos profundas. A proximidade com o cantar pop e as batidas bailáveis podem iludir os ouvintes incautos. Agora, numa escuta atenta, o álbum Dar Vida, da costarriquenha Debi Nova, encanta e provoca.
Gravado no mítico El Desierto Estudio, na Cidade do México, acabou sendo parido junto da primeira filha da artista. A canção que representa de forma mais contundente este momento é a faixa título (veja no clipe abaixo). Destaque ainda para canções como Barco del Tiempo, ao lado da porto-riquenha Kany García, uma levada daquelas irresistíveis, que inspiram o movimento com graça e prazer. Baño de Luna também tem essa leveza litorânea.
Outras canções são impressionantes pela originalidade. Falo de Maleza, com sonoridade roqueira acústica e letra desbocada, e DiosaStyle, calipso cantado numa bela mistura de espanhol e inglês, junto à colombiana Goyo e à dominicana Jarina De Marco.
Ar fresco que acolhe e não deixa ninguém incólume.
+2 performances captadas em vídeo
Já viram a rapper chilena Ana Tijoux no queridinho Tiny Desk? Tá abalando. Foram mais de 300 mil visualizações em três semanas. O projeto mais consistente de sessões musicais propagáveis na internet, com uma performance de quem tem algo urgente a dizer.
E tem mais destes clipes gravados valendo, em produções minimalistas e intimistas. As colombianas do coletivo Flor de Lava. registraram a sua roda de viola, pra que possamos curtir a qualquer hora.
Prográmate
Curitiba | 14 de junho | Daniel Drexler | +info
Santiago | 18 de junho | Liuba María Hevia | +info
Porto Alegre | 21 de junho | RS Música Urgente | +info
Buenos Aires | 19, 20 e 21 de junho | Ana Prada & Malena Muyala | +info
Descubre lo que importa:
[Los 600 de Latinoamérica] Una introducción
[Diario UChile] Liuba María Hevia, cantautora cubana
[Rolling Stone] Que la voz de Silvana Estrada nos acompañe para siempre
[Parêntese] Apostas da canção latino-americana para a temporada de premiação
Tá cada vez mais difícil selecionar as canções do mês para uma playlist de apenas 20 faixas. Então criei duas em maio. A primeira 1️⃣ segue a mesma intensão inaugural que justifica esta newsletter. Ou seja, procura elencar as canções de autor mais interessantes que estão sendo lançadas. Contudo, há uma diversidade de gêneros e subgêneros em torno desta definição. Por isso, agreguei músicas que flertam mais com o pop e o rock na segunda 2️⃣ playlist. Apelidei de Las más fuertes.
1️⃣ playlist acima - Essa lista ordinária do mês inclui a feminista Vivir Quintana 🇲🇽, saudando previamente a eleição da primeira presidenta do México. Lado a lado, a toada andina de Niyireth Alarcón 🇨🇴, a bossa de Sofía Alvez 🇺🇾, entre tantas cantautoras talentosas.
Há versões também. Uma delas confere uma roupagem tangueira ao sucesso Pétalo de Sal, de Fito Páez 🇦🇷, com Chabuco feat. Juanes 🇨🇴. Já Manu Manzo 🇻🇪 canta La vaca mariposa, de Simón Díaz, dentro de um incrível álbum coletivo chamado Criollas, ao lado de mulheres de diversos países.
Da música cubana, mais um adelanto da lenda Silvio Rodríguez 🇨🇺. Vale destaque ainda para os encontros potentes entre Pedro Guerra e Marta Gomez 🇨🇴 e entre o capixaba Silva 🇧🇷 e Jorge Drexler 🇺🇾.
2️⃣ playlist abaixo - Começa com uma canção aparentemente lenta, mas nervosa. E a lista vai subindo a temperatura, a rotação e a distorção. Inclui releituras, como a de Hilda Lizarazu 🇦🇷 para Charly García. Depois, Nella 🇻🇪, com o standard Como la cigarra, de Maria Elena Walsh 🇦🇷.
Inclui nomes consagrados retornando aos lançamentos de inéditas, Café Tacvba 🇲🇽 e Manu Chao 🇫🇷🇪🇸. Encerra com um punk da banda Francisco, El Hombre 🇧🇷🇲🇽, que está girando o Brasil com uma turnê de despedida.
Que se vengan las canciones
Junho já começou com o álbum Tá, das argentinas do duo Perotá Chingo. Logo, o equatoriano Ricardo Pita acompanhou a abertura do mês com um adelanto de seu próximo álbum.
No dia 14, a cantautora equatoriana Grecia Alban lança o single Anita. No mesmo dia, a colombiana Marta Gómez vai lançar Lobo.
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Gracias pela leitura e até a próxima.
¡Hasta!
Assisti semana passada o Tiny Desk de Ana e amei!
Maravilhosa!
Um beijo.