#11 | Puerta, Piscina Libre y outras paisagens sonoras
Newsletter de recomendações em portuñol, de um mês cheio de canções novas
Buenas, bem faceiro, começo a redigir esta 11ª edição. Isso porque em agosto ultrapassamos 300 assinaturas. Parece pouco, mas são mais de três centenas de pessoas que por livre iniciativa acessaram a plataforma Substack, com suas próprias razões e desejos, e assinaram esta newsletter.
Muchísimas gracias!
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Agora os assuntos do último mês, que foi repleto de boas novidades na canção latino-americana. Obs.: Aqui neste texto introdutório costumo resumir o que você vai encontrar na edição.
A sensação da música uruguaia atual é Isabel Lenoir, jovem cantautora de candombe que acaba de lançar o segundo EP, Piscina Libre (B). Conferi as duas partes de seu trabalho de estreia e escrevi uma resenha logo abaixo.
Também resenho os novos álbuns dos argentinos Abi González e Gaia Delfini, dois compositores daquelas canções cheias de referências folclóricas, bem como gostamos por aqui.
Além dos comentários, você vai poder conferir vídeos de sessões musicais captadas em diferentes lugares, a agenda de shows ao redor da América Latina, links super interessantes e a tradicional playlist do mês no Spotify, somente com lançamentos selecionados, de todas as partes do continente.
Vamo arriba!
Isabel Lenoir lançou novo EP, irmão do anterior de um ano atrás, ou o seu lado revés. Em Piscina Libre B, mostra mais candombes criados coletivamente ou individualmente.
Inicia essa coleção de canções com a linda Prólogo, cantando de forma profunda e madura, como se sua voz viesse do passado. Uma mostra de que consegue extrapolar o gênero musical uruguaio, com excelência na interpretação.
A seguir, começam os embalos irresistíveis, na melodia assoviável de Amor, llegue mi beso hacia ti. Um hit instantâneo, com a participação de Facundo Balta.
Tierra e Secreto são mais intimistas e autorais, calcadas nos tambores de candombe, mas de forma sutil. Encerra com Gurí, perfeita para a saída de uma comparsa.
Isabel Noir destaca-se entre a nova cena de cantautoras uruguaias, ao lado de Eileen Sánchez, Angela Alves e Sofía Alvez. A paisagem de Montevidéu está balneável!
Após um trabalho ligado ao folclore e às suas possibilidades jazzísticas, no premiado Violeta Azul, o argentino Abi González agora oferece um menu mais variado de canções. 11Puerta3 é hiper bem produzido, possui arranjos consistentes, com metais e participação de conterrâneos em uma série de duetos.
Ojo que esto es nomás una simple canción
No es nada, no es la revolución
El cantar, el decir, calma nuestro interior(Mendigo, Abi González)
De um início com rocks potentes, de letras contundentes, Abi retoma os aires folclóricos em faixas mais serenas, e encerra com a zamba sensível Recuerdos del Portezuelo, ao violão.
Como é comum atualmente nos lançamentos fonográficos que visam circular bem no streaming, o cantautor convida uma série de outras vozes para fazer feat. Junto a Luna Monti, o chamamé romântico Mi plan, e com Sofía Viola, a energia salseira de Mañanita. Já ao lado de Raly Barrionuevo, a chacarera épica Sanar, o ápice do disco. Aliás, seu timbre é muito parecido com o de Raly, nome consagrado no folclore contemporâneo argentino. Fico instigado com a semelhança do grão da voz de ambos, enquanto distanciam-se em buscas estéticas originais.
Abi González abre portas para o ecletismo neste álbum. Ainda assim, suas canções soam com a mesma complexidade harmônica, com arranjos muito bem feitos, que valorizam o sentido de letras imponentes.
No último dia de agosto, a cordobesa Gaia Delfini lançou seu primeiro disco. Foi como um "parem as rotativas", expressão antiga do jornalismo impresso que anunciava uma notícia importante de última hora. Mas, sem atropelo, incluí nesta edição esta resenha e convido a desfrutar Amaranto, com tempo, calma e atenção.
Há um quê eloquente de rock progressivo na primeira faixa, Comer con las manos, e na sonoridade e estrutura de todo álbum. Há profunda ligação com a ancestralidade, não só nos arranjos de primorosa e variada execução instrumental, mas na performance vocal sussurrada de Gaia.
A faixa título flerta com o candombe e garante o melhor momento do disco. A seguir, uma ambiência medieval, em Signo Azul, e a linda narrativa andina de Yumani, inspirada na comunidade com o mesmo nome na Bolívia.
Uma estreia que se impõe como poucas. Sobram qualidades: originalidade, excelência na produção e no criar cancionista, que nos leva a lugares transcendentes.
videos y sesiones
A mexicana Natalia Lafourcade está de turnê nos Estados Unidos e andou gravando esta sessão audiovisual em Los Angeles. Afora essa credencial, de uma artista prestigiada, é impressionante assistir ao resultado de sua performance. O quanto ela evoca desde as mais recônditas tradições até as mais requintadas sofisticações.
O cabelo de Natalia sobre o braço do violão, a captação de sua emissão vocal com um ataque sutil e preciso. Tudo isso comove e garante que a canção contemporânea latino-americana é fidedigna. Natalia Lafourcade é uma concretização disso e vocês já sabem. Se não ainda, após um simples vídeo como este, com certeza.
Na edição anterior da newsletter comentamos a primeira parte do álbum duplo da dupla Alejandro y María Laura, Dos hemisferios, lançada em julho. Agora em agosto, começou a vir a público a segunda parte, como essa canção interpretada ao vivo em estúdio, junto à rapper Renata Flores, cantando em quechua. Incrível como a régua não baixa no trabalho da dupla peruana, sucesso de público e crítica.
O chileno Laró entrega tudo nesta sessão. A energia rock se traduz em uma batida solta, com equalização estridente do violão, e rouquidão na voz. Tudo isso em uma gravação dinâmica, coroada pela participação da plateia no coro. Simples e tocante, como as boas canções.
Apenas um cuatro e um chocalho de ovo, acompanhando duas vozes. Parece um sarau despretensioso, que apresentaria um repertório fofo. No entanto, Evelyn Cornejo é a autora das letras de protesto mais atuais da música chilena. Este vídeo é uma revelação potente do que já havia comentado na resenha dos melhores do ano passado.
Prográmate
Bogotá | 14 e 15 de setembro | Festival Cordillera | +info
São Paulo | 20 e 21 de setembro | Mil Guitarras para Victor Jara | +info
Florianópolis | 28 de setembro | Antonio Villeroy & Gelson Oliveira | +info
São Paulo | 28 de setembro | Leiden | +info
Buenos Aires | 4 de outubro | Julieta Venegas | +info
Descubre lo que importa:
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Playlist de agosto começa lentamente, como sempre. Abre com canções daquelas que instigam a alma, com a interpretação de Nadia Larcher 🇦🇷, Briela Ojeda 🇨🇴, Luizga 🇧🇷, Victoria Sur 🇨🇴, Daniel Drexler 🇺🇾, e por aí vai.
A seguir, acelerando o ritmo, no meio de artistas de diversas nacionalidades, a gaúcha Paola Kirst 🇧🇷, com uma das faixas de seu incrível novo disco, Redoma. Também o catalão Hugo Arán 🇪🇸, com uma amostra de Ar, seu impecável novo álbum, cheio de participações de brasileiros.
Já mais pro final da lista, em alta rotação, dois encontros imperdíveis. Um entre duas cantautoras originais, Inés Errandonea 🇺🇾 e Sofía Viola 🇦🇷, que só podia resultar em uma performance singular. Outro com o jovem Carlos Cruzalegui 🇵🇪, que chamou o baita Kevin Johansen 🇦🇷 para uma parceria.
Boa audição!
Que se vengan las canciones
O compositor gaúcho Raul Boeira está masterizando seu terceiro disco, que vai se chamar Sambas & Canções. Já andei escutando uma prévia e adianto aqui que está muito bem produzido!
E Ángel Parra, cantautor colombiano radicado na Austrália, está lançando seu primeiro álbum, Retazos. Uma mostra está no ótimo single Ojo por ojo, que compõe nossa playlist deste mês.
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